Bombeiros. PCP defende negociação para "esvaziar" movimentos inorgânicos

por João Alexandre

Fotografias de Gonçalo Costa Martins

A resposta do Governo aos protestos dos bombeiros esteve em debate no programa Entre Políticos. PCP lamenta "quebra" no diálogo. IL e LIVRE também apelam à negociação.

Bombeiros. PCP defende negociação para "esvaziar" movimentos inorgânicos

O PCP critica a decisão do Governo de suspender as negociações com os representantes sindicais dos bombeiros e considera que a manutenção do diálogo - e com resultados positivos para os profissionais - é vital para evitar o crescimento dos movimentos inorgânicos.

Em declarações na Antena 1, António Filipe, deputado do PCP, lamenta a "quebra de diálogo" e afirma que, desta forma, o Executivo de Luís Montenegro está a abrir a porta a formas de luta "indesejáveis".

"Não compartilho a ideia de que o Governo fez bem em suspender as negociações. Pelo contrário, devia ter mantido a perspetiva de negociação com os sindicatos, porque isso é a forma de esvaziar movimentos inorgânicos e formas de luta indesejáveis", diz o deputado, que sublinha: "Não podemos fixar-nos na forma e esquecer o conteúdo, esquecer o que está por trás, porque o que está por trás disto tudo é uma carreira que não é revista há 22 anos".

No mesmo sentido, o deputado comunista recorda a campanha eleitoral para as eleições legislativas e refere que, em relação a vários setores profissionais, foram criadas expetativas em que o Governo "não tinha margem de recuo", porque tinha assumido compromissos "muito concretos".
"Se o Governo não privilegia o diálogo com sindicatos está a abrir a porta a movimentos inorgânicos perigosos para todos. O Governo menosprezou esse risco, mas não é só de agora, o anterior Governo também. Nós vimos que, a certa altura, surgiram nas forças de segurança movimentos inorgânicos muito perigosos, mas com o acordo razoavelmente satisfatório que foi alcançado com os sindicatos esses movimentos foram esvaziados", acrescenta António Filipe.

No programa Entre Políticos, o deputado comunista apontou ainda "imensos problemas" na Administração Pública que ficaram por resolver durante o Governo de António Costa: "Quando a prioridade dos Governo é o excedente orçamental, isso tem consequências".

Iniciativa Liberal elogia suspensão das negociações, mas apela ao diálogo


Para a líder parlamentar da Iniciativa Liberal, o Governo de Luís Montenegro esteve bem ao não continuar as negociações durante os protestos "exaltados" por parte dos bombeiros sapadores, mas, em declarações à Antena 1, Mariana Leitão avisa que o Executivo da AD terá de resolver o assunto o mais rapidamente possível, até porque, assinala a liberal, as reivindicações já são antigas.

"No caso dos bombeiros, há uma questão adicional, que é terem um estatuto que não é revisto há 20 anos. E têm condições salariais francamente baixas, portanto, é óbvio que alguma coisa o Governo teria de fazer relativamente aos bombeiros", diz a deputada, que insiste: "É preciso não esquecer que os bombeiros têm uma função primordial na sociedade e têm uma utilidade em que, obviamente, nós não podemos tratá-los como se fossem uma classe profissional de segunda. Portanto, têm de ser devidamente valorizados".

Mariana Leitão argumenta que os "erros" foram cometidos, sobretudo, durante o Governo de António Costa, onde foram criados "vários problemas em várias classes" na sequência de decisões como "desmantelar o SEF e atribuir um subsídio à PJ".

"Os bombeiros sentem que foram discriminados e, aí, penso que o Governo devia ter tido uma abordagem mais transversal", insiste Mariana Leitão.

A líder parlamentar questiona ainda o facto de nem todas as sensibilidades estarem representadas nas negociações com o Governo: "Há vários sindicatos representantes da Administração Pública e dos bombeiros profissionais, mas, estranhamente, não há um único sindicato dos bombeiros sapadores".
LIVRE defende que há "margem" para atender a reivindicações dos bombeiros

Paulo Muacho, deputado do LIVRE, considera que o argumento da "manta curta" não é justificação para não se avançar com uma negociação "justa" com os bombeiros sapadores e sublinha que o Governo tem capacidade orçamental para alcançar um entendimento.

"Saímos de um processo orçamental em que o Governo nos disse que estávamos bem e que até podíamos prescindir de algumas receitas do Estado", salienta Paulo Muacho, que acrescenta: "O primeiro-ministro, enquanto candidato, prometeu muito a toda a gente. É preciso que o Governo tenha disponibilidade para negociar. O que temos visto é que, nalguns casos, há proatividade, mas, noutros casos, [Luís Montenegro] vai à boleia de quem reivindica mais ou de quem consegue ter mais projeção negocial".

No programa Entre Políticos da Antena 1, o deputado do LIVRE assinalou ainda que, apesar do acordo alcançado com as forças de segurança, as negociações com os bombeiros sapadores devem ser feitas num plano diferente e sem olhar para os valores que estiveram na base do compromisso com GNR e PSP.

"Não sei se o Governo terá, necessariamente, que equiparar esses suplementos. Aquilo que tem de acontecer, e também nos parece que, no fundo, é aquilo que os bombeiros pedem e exigem, é uma valorização e uma melhoria daquelas que são as suas condições. Os bombeiros recebem muito pouco, fazem um trabalho que é essencial e são uma classe profissional que tem um grande prestígio social. Todos reconhecemos a importância que eles têm do serviço que prestam ao país", afirma o deputado.


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